Estava eu no mais completo tédio do meu lar, sozinho em casa, assistindo a “The Glee Project” dublado, e pela Fox num final de semana. Ou seja: Literalmente na merda
Primeira vez que eu estava vendo, apesar de já saber do que se tratava, e conhecer os participantes pela internet da vida. Não gostei particularmente de nenhum, achei a maioria caricata demais, cheios de maneirismos e atitudes de diva-wannabe.
O episódio falava sobre vulnerabilidade, acho que todo mundo viu ou leu sobre este episódio não é? O que a menina gorda colocava um cartaz dizendo ser gorda, o menino anão usava um cartaz escrito pequeno, o menino negro e gay andava com um cartaz escrito gay, e eu me pergunto se o episódio deveria ser sobre o óbvio, ou sobre a vulnerabilidade em si.
Claro, os atributos que eu acabei de mencionar não são em nada positivos, mas a dizer que aqueles adolescentes se tornam vulneráveis em admiti-los? Acho que é um pouco demais. Pra mim, essa “sequência” não os torna fracos, ou frágeis, ou covardes, os torna ÚNICOS, individualizados, e com personalidade. Gays e gordos temos aos montes, em diferentes cores, alturas, tamanhos, peso; anões não temos lá tantos, mas pelo menos A MIM, não convenceu como uma vulnerabilidade.
E cá estava eu criticando e pensando em mil coisas pra falar (a ponto de interromper um texto que eu estava escrevendo sobre a Síndrome Harry Potter que se apossou do mundo) e me dei conta de que deveria pensar em escrever sobre a minha vulnerabilidade. Ou sobre meus muitos pontos fracos.
Se eu fosse um participante (Isto é, se eu fosse bonito, cantasse bem e tivesse dinheiro pra morar nos Estados Unidos –risos-) eu teria o maior orgulho em escrever –LONELY- na minha placa, como em –SOZINHO-. É, isso mesmo caros leitores, sozinho.
Ao que muitos iam se surpreender e exclamar “Como assim? Você não tem amigos? Que vida triste!”, mas deixem-me continuar meu pensamento.
Sim, sozinho é uma das palavras mais significativas pra mim, e não apenas no contexto de individualidade. Eu aprendi a apreciar os momentos que tenho de intimidade com cada um de meus neurônios; e nem tenho a desculpa de que fui criado numa família gigantesca, porque não o fui; desde pequeno, meus melhores companheiros sempre foram os livros e as miniaturas.
Mas e daí, por quê eu decidi escrever sobre isso, já que nada parece estar fazendo sentido? Ahn, um ponto crucial finalmente (aleluia, vamos erguer as mãos pro céu). Vivemos numa época em que o surto das redes sociais se multiplica; o finado Orkut, Twitter, Facebook, LastFM, Google+, Badoo, e milhares de outros só pra começar a festa, e adicionamos pessoas que fizeram parte de nossa vida e vamos conhecendo outras e outras e outras, e por fim, conhecemos tanta gente que acabamos por não conhecer ninguém.
Como é possível? Resposta simples: Superficialidade. As redes sociais são ótimas, mas não conseguem suplantar a necessidade humana real de contato, seja pra andar na rua e ver gente, pra olhar vitrine, ver um filme no cinema, comer num Burger King da vida, seja lá o que for. Quanto mais amigos você acaba tendo online, menos os conhece de verdade, menos tempo tem pras suas próprias coisas, já que grande parte da sua vida passa enquanto você olha uma tela.
Na minha época (falei que nem um velho né?) nós, crianças, ficávamos prostrados na frente de um Master System 2 ou um Mega Drive, e quando se passavam duas ou três horas, já vinham nossos pais com a mão na chavinha que ia atrás da TV e mandavam a gente pro quintal e pra rua.
Hoje em dia, quem é que nos dá limites? Quem marca nossas fronteiras? Somos tão reclusos em nossa solidão que nem percebemos. Não percebemos porque estamos tão cercados de avatares e imagens de exibição e buddypokes e Players Characters, e contatos no MSN, que nossa visão do real se torna borrada, obscura, deturpada.
Um outro dia eu deletei quase 200 contatos do MSN com quem não conversava há algum tempo, e me perguntei “Nossa, olha há quanto tempo deixei de conversar com essas pessoas, eu nem lembro do rosto de alguns deles, onde é que as coisas desandaram?”; mas não obtive resposta.
Não vou me estender, porque todo mundo tem uma vida pra cuidar né? E eu comecei falando do “The Glee Project”, e da vulnerabilidade, passei pra solidão, e estou finalmente na mensagem que tinha a passar: Talvez, nossa maior vulnerabilidade não é estarmos sozinhos, mas estarmos conectados, conectados de forma tão íntima que não sabemos mais onde termina a idéia de um e começa a do outro, tomamos notícias do facebook com uma verdade tal que a reproduzimos e ela se torna viral; a conexão virtual tornou-se tão necessária que valha-nos Deus de ter algum problema na rede, a Velox não estar respondendo, ou pior, uma falta de luz.
Desfilamos pelas ruas com nossos tablets, iphones, ipads, smartphones, sempre conectados, e às vezes nem olhamos nos olhos das pessoas que nos atendem nas lojas; sejam honestos e me digam: Vocês lembram do nome das pessoas que os atendem nas redes de Fast Food? Pois é, todos têm plaquinhas, mas quantos de nós param pra olhar? No entanto, se chega algum novo tweet ou comentário no facebook temos que ver imediatamente.
Nossa maior vulnerabilidade é a vida, ou a não-vida, aquilo que estamos nos tornando, seres cada vez mais prontos pro automático, realizando tarefas sem sequer nos darmos conta do que fazemos, aceitando conceitos em que nem pensamos direito.
Continuamos gays, hetero, lésbicas, negros, brancos, mulatos, morenos ou asiáticos; altos ou baixos, magros ou gordos, mas com uma vida virtual semelhante, cabelos coloridos e olhos grandes nos nossos avatares. E claro, uma boa dose de photoshop.
Bem, tendo desabafado, vou eu desligar o computador e dar uma volta no quarteirão. Ainda são 10 horas da noite, tá tendo uma roda de pagode ali na esquina. Não gosto nem de ouvir, mas não me custa passar por lá e ver as pessoas, aproveitar a minha solidão no meio dos outros, mas longe do virtual.