13 de jan. de 2009

Para Ler e Meditar


Algum tempo distante e nesse curto período de tempo, tive a oportunidade de ver coisas das mais inusitadas. E uma das coisas que eu observei, nos meus momentos inércia junto a um banco e com um bloco de papel em mãos pronto a escrever algo.


Fiquei uns 15 minutos observando o caminhar claudicante de um senhor. E foi quando ele sentou ao meu lado e começamos a conversar. Ele me contava sobre um tempo em que tudo era diferente.
Os rios não eram tão poluídos, os céus pareciam ser mais azuis, havia respeito para com os mais velhos.


Ele me falou de um tempo em que a Lapa era o Centro Intelectual do Rio de Janeiro. Com seus boêmios, seus malandros e suas mulheres.


Nem preciso dizer que fiquei com os olhos brilhando.


Mas depois de um tempo, ele se levantou e claudicando como viera, se foi.


No outro dia, estava eu sentando ao mesmo banco, na mesma praça, no mesmo horário e o meu companheiro do dia anterior, mais uma vez veio com a sua marcha claudicante e sentou-se ao meu lado.
Em mais uma tarde começamos a conversar (na verdade eu escutava mais do que falava, sentia prazer em ouvir o meu companheiro de praça falar sobre o passado) até que ele se cansava (até mesmo por conta da idade) e caminhava para casa.


Permanecemos naquela cumplicidade por semanas, mesmo sem um saber o nome do outro; acho que não havia necessidade para tal.


Num dia, por volta do fim de dezembro, me atrasei e quando cheguei à praça, meu velho amigo já se encontrava a minha espera.


Nesse dia havia me atrasado para compensar meu amigo e ajuda-lo. Havia comprado uma bengala para ele. Não um pedaço de madeira esculpida de forma desleixada e sim um belo pedaço de pinho, trabalhado a mão por um habilidoso escultor (por assim dizer), com a cabeça de um leão no local da empunhadura.


Em agradecimento ao presente, ele me disse seu nome, sr. Homero. Dizendo o meu nome completo, ele me disse a origem do meu nome e as possibilidades da minha arvore genealógica. Quando lhe questionei como poderia saber daquilo tudo, ele me explicou que tinha sido historiador, mas como o tempo é a única máquina que nunca enferruja o tempo dele havia passado e ele estava agora curtindo o resto da sua vida.


O restante do mês de dezembro foi munido de jogos de xadrez e minutos de aprendizado com o sr. Homero. E próximo ao natal, surgiu um convite de ir até a sua casa para um chá. Chegando em frente a casa, tive que desviar-me do destino por motivos pessoais e
E no inicio do ano seguinte, retornei a praça, mas o meu caro amigo não estava lá. Fui a casa dele para saber como estava, pois às vezes poderia estar doente ou precisando de ajuda.


Ao chegar a casa dele, encontrei-me com a filha dele, que me informou que o sr. Homero havia falecido na noite de virada de ano, deixando uma carta.


Eis a carta de um homem a qual aprendi a respeitar e invejar pela complacência de desfrutar os anos de ouro da sua vida e partilhar com um jovem que mal saíra do casulo que é a pré-maturidade.


"Ao que outrora fora Rei e hoje é Príncipe de sua vida e seu destino, meu caro amigo Romulo.


A vida, como pode ver em nossas conversas, me foi de extremo zelo e carinho, por mais que eu tivesse sido condescendente com a mesma. Vivi os meus dias como quem goza pela primeira vez, em meio ao calor do corpo de uma bela mulher.

Desfrutei de todos os prazeres possíveis que um homem poderia desejar. Dancei ao som de musicas que não entendia, dancei apenas por dançar, gritei aos quatro ventos a minha dor e a felicidade que enchia o meu peito.

Mas acho que a maior dor que eu poderia ter sentido foi ver todos os meus amigos se afastando, por conta dos afazeres; em dados momentos, esquecia-me de falar aos meus pais, filhos, esposa o quanto eles eram e são importantes para mim.

Vi, jovens movimentando o país, enquanto os adultos ficavam de braços cruzados; vi jovens surgirem na mídia e a mesma mídia divulgar a morte trágica dos mesmos.

Viva com intensidade cada momento, porque você vai descobri da forma mais dolorosa que nada que deixamos para depois, poderemos recuperar.
Namore na chuva; beije com a eterna paixão de um momento de solidão. Divida sua vida com alguém, para que você possa ter a quem voltar ao fim de um dia de trabalho.

Por mais que vida seja intensa e, na maioria das vezes, frenética, lembre-se que sempre temos a quem recorrer. Nunca vire as costas para aquele que busca a sua ajuda.

Passei os últimos dez anos da minha vida, indo até a praça a qual confabulamos por horas a fio, com o intuito de esperar com que algo de bom acontecesse. E incrivelmente só veio a acontecer às vésperas do transcender de um espírito para o nascimento de outro. Fora um ótimo ouvinte e acredito que sempre haverá um pouco de mim em você, pois todas as pessoas a qual temos contato na nossa rápida passagem pela terra são como perolas, cada uma delas tem sua peculiaridade assim como um brilho puro e único.

Mas uma coisa é certa. De todos esses anos, o que mais me deu prazer foram as amizades conquistadas, assim como ter como amigo um jovem que tem tudo para não dar atenção a um velho em final de carreira; mas ao contrario da expectativa, fora um ótimo amigo e ouvinte. Encontraremos-nos numa outra era para uma partida de xadrez.

Viva intensamente, pois a eterna maquina do tempo nunca precisa de reparo e trabalha com a pontualidade de um relógio inglês e a urgência de um mensageiro húngaro.

Homero R. C. Costa.
"

Sem mais por hoje.

3 comentários:

gério disse...

*_*
Texto muito bonito Rômulo. ^^
Por isso que é bom sempre conversar com pessoas com mais experiência de vida que nós pois eles sabem passar bons ensinamentos sobre a vida.=D

Sergio Cabral disse...

Não existe nada mais bonito que o amor, o mesmo presente em uma relação é o mesmo presente na amizade.
Em todas as coisas do mundo, essa é a que devemos dar mais importância...

Certamente, o senhor Homero está em um bom lugar, seja no mais belo dos campos ou em um open bar. O importante, é que sua missão aqui foi cumprida, e mesmo sem conhecê-lo, posso perceber quem é ele em você.. como ele disse, és um ótimo ouvinte, e um verdadeiro companheiro.

Obrigado senhor Homero, descanse em paz.

Depois dessas palavras, minhas despedidas são por dois.

Sergio e Ariane.

Pela sua amizade conosco, um muito obrigado.

Mr. V disse...

Sendo quem somos, devemos viver bem. Suicidio nao eh só pegar uma faca e enfia-la no peito ou pular de um predio alto.
Se vc nao viver bem, ja é suicidio!
Viva todo dia como se fosse o ultimo, pq um dia vai ser mesmo!